A procura incessante do ser humano pelo prazer, pela satisfação, pela felicidade, enfim, é tão antiga quanto a descoberta do fogo ou a invenção da roda.
Sábios pré-socráticos, filósofos de todas as correntes, acadêmicos de vários matizes tentaram ao longo dos séculos dimensionar e tornar palpável fórmulas de felicidade, segredos da busca pela realização pessoal e pela convivência feliz. Foram esforços, na maioria, em vão, incluindo as peripécias dos milhares de aventureiros da autoajuda, no mundo contemporâneo.
Pois um psicólogo norte-americano, Daniel Gilbert, desconstrói alguns mitos e derruba barreiras seculares para elaborar um plano de busca da felicidade que não requer habilidades especiais nem grandes posses materiais – a começar pelo dinheiro.
Gilbert, além de tudo um exímio argumentador e palestrante, não se baseia em suposições, mas em prolongados e minuciosos estudos de comportamento que tornaram as conclusões de suas pesquisas um conjunto de observações com alicerces na Ciência e não em projetos impalpáveis e subjetivos.
PhD em Princeton e professor de Harvard, 59 anos, este pesquisador que abomina os manuais de autoajuda transformou-se num concorridíssimo consultor internacional de vários segmentos, em especial depois do mais lido de seus inúmeros livros recentemente publicados, “O que nos faz felizes” (No Brasil, pela Editora Campus).
O que faria você feliz nesse exato momento?
Gilbert não faz suposições nem análises subjetivas. Seus levantamentos são diretos e significativos, com resultados praticamente matemáticos, sem interferência de interpretações. É o caso da pesquisa com cinco mil pessoas de todas as idades que responderam coisas como ‘o que faria você feliz neste exato momento?’, após um telefonema de surpresa. Para o pesquisador, não se trata de desprezar o que já foi pensado por grandes cérebros da história.
Ele preza demais, por exemplo, a corrente hedonista, que defende a ‘felicidade que é simples’, a realização do indivíduo com as coisas básicas. Mas pondera que as características marcantes do mundo moderno, individualista e tecnológico, foram transformando os perfis de pessoas de todas as idades, crenças e situações sociais.
Do ponto de vista científico, que é o que interessa a Gilbert, é possível detectar perfeitamente, com os instrumentos à disposição dos estudiosos, o que é de fato o conceito sonhado de bem- -estar. E as conclusões apontam para um panorama de surpreendente simplicidade para que a maioria das pessoas se sintam leves e felizes.
Nas pesquisas da equipe do especialista surgiram quatro objetivos como fundamentais para se atingir um estado de felicidade: exercício físico, reuniões/conversas, música e sexo. Todos os outros itens eram de alguma forma ligados aos temas mais votados, tais como viajar, passear e conversar com os filhos, curtir os animais de estimação, consumir a comida preferida.
Por exemplo: muitos pesquisados escolheram cinema ou literatura em vez de música, mas foram encaixados no bloco que preza algum tipo de atividade artística (os partidários da música foram maioria). No escopo da pesquisa não constavam questões muito especificas, mas coisas como dinheiro, poder, uma casa na praia, consumo exagerado ou um carrão da moda pouco apareceram nas respostas quando as pessoas pensavam efetivamente em felicidade duradoura.
Nas conclusões do grupo de Daniel Gilbert o que ficou de mais representativo foi que todos os quatro requisitos para se ser feliz podem ser atingidos a custo zero e sem distinção social.
É ou não é para se pensar?