“É preciso enxergar detrás dos morros e das montanhas” – Norvina Gomems
Até hoje estas sábias palavras ditas pela minha saudosa avó ecoam com insistência em meus pensamentos. Ainda muito pequeno, eu olhava para os morros e montanhas e seus entornos da soberba paisagem de Minas Gerais. E O que via? Eram mais morros, mais montanhas e distâncias.
Com o tempo aprendi o verdadeiro sentido dessas palavras que, resumidamente, têm o significado da busca contínua da superação dos obstáculos que veem e que viram em nossas vidas. E foi mais ou menos assim que se inicia a nossa história.
Começamos a trabalhar ainda crianças. Fazíamos foguetes e bombinhas, aprendemos a curtir couro com cascas maceradas e moídas da árvore do barbatimão em buraco cavado e revestido com tijolos.
Aprendemos também as primeiras noções de sapatos em uma “fabriqueta” de botinas usando martelo, faca, um pé de ferro e duas máquinas: o “acabamento” e uma máquina de costura. E tudo isso ali, entre a água e a serra. A água da represa do Rio Grande e a Serra da Canastra. O lugar: Delfinópolis.
O tempo passa e em busca de novas oportunidades mudamos o lugar escolhido: Franca é hoje minha segunda cidade natal.
Aumentamos nossos conhecimentos na confecção de calçados, estudamos em escola pública no período noturno e nos ausentamos desta cidade apenas para a formação universitária. Assim formamos. Meu irmão, Jânio, hoje presidente da empresa, tornou-se médico e eu engenheiro, profissões que muito nos ajudam em nossas vidas e naquilo que fazemos.
Hoje, olhando a atual coleção outono/inverno que se apresenta neste ano, vi exatamente as palavras de minha querida “vó”: vi a decodificação do invisível para o visível, do abstrato para o concreto; e mais, vi a transcendência da natureza para a arte. Vi as cores, o céu, o sol, as águas, as praias, as florestas e a alegria da brasilidade deste imenso país materializados em forma, equilíbrio, estilo, leveza e magia nas coisas que fazemos.
Tudo isso só foi possível com a colaboração de centenas de pessoas, da família e principalmente dos nossos pais: José Rodrigues, o maior empreendedor do pé da Serra – fogueteiro, curtidor, fabricante de botinas. Dinorá Machado (in memorinan), a mulher mais sábia e mais exigente que conheci. E minha “vó”, a incondicional protetora de todos os momentos.
Wayner Machado
Sócio-Diretor Freeway
Diretor Estadual e Regional da FIESP
Presidente Regional do Conselho SESI/SENAI Franca.